A Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) seca é a forma mais comum dessa doença, representando cerca de 85 % dos casos. Caracteriza-se por acúmulo de drusas — pequenos depósitos amarelados sob a retina — e, em estágios avançados, por áreas de atrofia do epitélio pigmentar e dos fotorreceptores¹. Embora não haja cura definitiva, existem estratégias que podem retardar a progressão e preservar a visão central por mais tempo. Este artigo explora em linguagem acessível o que o paciente deve saber sobre opções terapêuticas, cuidados complementares e expectativas de evolução.
O QUE É TRATAMENTO DA DMRI SECA?
Diferente da forma úmida (neovascular), na qual existem vasos anômalos sob a retina, a DMRI seca progride de modo mais lento, sem hemorragias retinianas. O tratamento aqui visa não reverter a doença, mas:
- Reduzir o risco de evolução para DMRI úmida ou atrofia geográfica;
- Minimizar o estresse oxidativo e inflamação local;
- Manter as células remanescentes da mácula em melhor condição.
Ilustração sugerida: representação do depósito de drusas e áreas iniciais de atrofia.
CAUSAS E FATORES DE RISCO
Os mesmos fatores de risco da DMRI geral se aplicam à forma seca. Para fins de tratamento, destacam-se:
- Estresse oxidativo: radicais livres danificam as células retinianas.
- Inflamação crônica: ativação excessiva de componentes do sistema complemento.
- Dieta pobre em antioxidantes: insuficiência de luteína, zeaxantina e vitaminas.
- Tabagismo: agrava o desequilíbrio oxidativo em até 70 %².
SINTOMAS
Como a forma seca costuma evoluir de modo mais silencioso, muitos pacientes só percebem sintomas em estágios moderados:
- Visão central sutilmente embaçada
- Dificuldade para ler letras pequenas
- Leve distorção de linhas retas (metamorfopsia discreta)
- Sensação de pontos escuros (especialmente em ambientes bem iluminados)
Alerta: qualquer piora súbita da visão central deve ser investigada imediatamente para descartar evolução para a forma úmida.
DIAGNÓSTICO
O reconhecimento precoce permite iniciar intervenções nutricionais e de estilo de vida:
- Exame de acuidade visual: detecta diminuição funcional.
- Teste de Amsler: identifica áreas de distorção na visão central.
- Mapeamento de retina: identifica a presença de drusas em região macular
- OCT (Tomografia de Coerência Óptica): monitora o espessamento e presença de drusas.
- Autofluorescência: destaca depósitos de lipofuscina e regiões de alteração pigmentar.
TRATAMENTOS ATUAIS
1. Suplementação Nutricional (Protocolo AREDS2)
Baseado no estudo AREDS2³, recomenda-se combinação diária de:
- Vitamina C (500 mg)
- Vitamina E (400 UI)
- Zinco (80 mg)
- Cobre (2 mg)
- Luteína (10 mg)
- Zeaxantina (2 mg)
Esses nutrientes demonstraram redução de até 25 % na progressão para DMRI avançada em pacientes de risco moderado a alto⁴.
2. Dieta e Estilo de Vida
- Ácidos graxos ômega-3 (peixes como salmão, atum) têm ação anti-inflamatória.
- Frutas e vegetais coloridos (cenoura, espinafre, brócolis) fornecem carotenoides.
- Antioxidantes naturais (chás, oleaginosas) ajudam a equilibrar radicais livres.
- Parar de fumar reduz o risco de progressão significativamente.
3. Terapias em Pesquisa
- Inibidores do complemento (pegcetacoplan, avacincaptad pegol): oligômeros que bloqueiam a via do complemento para frear a atrofia geográfica emergente⁵.
- Terapias genéticas: estudos iniciais visam modular genes envolvidos na homeostase retiniana.
- Células-tronco: abordagens experimentais para renovar o epitélio pigmentar da retina.
4. Reabilitação Visual
- Óculos com filtros especiais para melhorar contraste.
- Lupas de baixa ampliação para leitura de textos pequenos.
- Treinamento de visão com terapeutas ocupacionais para otimizar o uso da visão periférica.
PROGNÓSTICO
- Pacientes que aderem ao protocolo AREDS2 e mantêm hábitos saudáveis apresentam redução de até 30 % no risco de progressão em 5 anos⁶.
- A evolução costuma ser lenta: muitos preservam acuidade funcional por mais de uma década, especialmente sem evolução para a forma úmida.
PREVENÇÃO E CUIDADOS
- Exames oftalmológicos anuais após os 55 anos.
- Acompanhamento trimestral em caso de drusas grandes ou múltiplas.
- Adoção precoce de suplementos em pacientes com drusas intermediárias.
- Proteção solar ocular com óculos UV e chapéus de abas largas.
PERGUNTAS FREQUENTES
- Suplementos substituem a consulta? – Não; são coadjuvantes ao acompanhamento clínico.
- Quando devo começar a suplementação? – Quando houver drusas intermediárias ou avançadas.
- É seguro tomar vitaminas em longo prazo? – Em geral, sim; siga sempre a dosagem recomendada para evitar efeitos adversos.
- Dieta sozinha é suficiente? – Dieta equilibrada ajuda, mas o protocolo AREDS2 traz substâncias em doses terapêuticas.
- Terei que parar se evoluir para forma úmida? – Não; o protocolo nutricional continua útil, mas será associado a injeções de anti-VEGF.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Klein R, et al. Prevalence of drusen in age-related macular degeneration. Arch Ophthalmol. 2000;118(8):1119–1121.
- Thornton J, et al. Smoking and age-related macular degeneration: a review. Eye (Lond). 2005;19(9):935–944.
- Age-Related Eye Disease Study 2 Research Group. JAMA Ophthalmol. 2013;131(3):339–349.
- Chew EY, et al. Secondary analyses of AREDS2. Ophthalmology. 2015;122(2):489–499.
- Liao DS, et al. Complement inhibition with pegcetacoplan in geographic atrophy. Ophthalmology. 2020;127(10):1381–1393.
- Evans JR, et al. Antioxidant vitamin and mineral supplements for slowing the progression of age-related macular degeneration. Cochrane Database Syst Rev. 2017;7(7):CD000254.