Tratamento da DMRI Seca: O que é, Sintomas, Diagnóstico e Tratamentos | SBRV

05/05/2025

A Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) seca é a forma mais comum dessa doença, representando cerca de 85 % dos casos. Caracteriza-se por acúmulo de drusas — pequenos depósitos amarelados sob a retina — e, em estágios avançados, por áreas de atrofia do epitélio pigmentar e dos fotorreceptores¹. Embora não haja cura definitiva, existem estratégias que podem retardar a progressão e preservar a visão central por mais tempo. Este artigo explora em linguagem acessível o que o paciente deve saber sobre opções terapêuticas, cuidados complementares e expectativas de evolução.

O QUE É TRATAMENTO DA DMRI SECA?

Diferente da forma úmida (neovascular), na qual existem vasos anômalos sob a retina, a DMRI seca progride de modo mais lento, sem hemorragias retinianas. O tratamento aqui visa não reverter a doença, mas:

  • Reduzir o risco de evolução para DMRI úmida ou atrofia geográfica;
  • Minimizar o estresse oxidativo e inflamação local;
  • Manter as células remanescentes da mácula em melhor condição.

Ilustração sugerida: representação do depósito de drusas e áreas iniciais de atrofia.

CAUSAS E FATORES DE RISCO

Os mesmos fatores de risco da DMRI geral se aplicam à forma seca. Para fins de tratamento, destacam-se:

  • Estresse oxidativo: radicais livres danificam as células retinianas.
  • Inflamação crônica: ativação excessiva de componentes do sistema complemento.
  • Dieta pobre em antioxidantes: insuficiência de luteína, zeaxantina e vitaminas.
  • Tabagismo: agrava o desequilíbrio oxidativo em até 70 %².

SINTOMAS

Como a forma seca costuma evoluir de modo mais silencioso, muitos pacientes só percebem sintomas em estágios moderados:

  • Visão central sutilmente embaçada
  • Dificuldade para ler letras pequenas
  • Leve distorção de linhas retas (metamorfopsia discreta)
  • Sensação de pontos escuros (especialmente em ambientes bem iluminados)

Alerta: qualquer piora súbita da visão central deve ser investigada imediatamente para descartar evolução para a forma úmida.

DIAGNÓSTICO

O reconhecimento precoce permite iniciar intervenções nutricionais e de estilo de vida:

  1. Exame de acuidade visual: detecta diminuição funcional.
  2. Teste de Amsler: identifica áreas de distorção na visão central.
  3. Mapeamento de retina: identifica a presença de drusas em região macular
  4. OCT (Tomografia de Coerência Óptica): monitora o espessamento e presença de drusas.
  5. Autofluorescência: destaca depósitos de lipofuscina e regiões de alteração pigmentar.

TRATAMENTOS ATUAIS

1. Suplementação Nutricional (Protocolo AREDS2)

Baseado no estudo AREDS2³, recomenda-se combinação diária de:

  • Vitamina C (500 mg)
  • Vitamina E (400 UI)
  • Zinco (80 mg)
  • Cobre (2 mg)
  • Luteína (10 mg)
  • Zeaxantina (2 mg)

Esses nutrientes demonstraram redução de até 25 % na progressão para DMRI avançada em pacientes de risco moderado a alto⁴.

2. Dieta e Estilo de Vida

  • Ácidos graxos ômega-3 (peixes como salmão, atum) têm ação anti-inflamatória.
  • Frutas e vegetais coloridos (cenoura, espinafre, brócolis) fornecem carotenoides.
  • Antioxidantes naturais (chás, oleaginosas) ajudam a equilibrar radicais livres.
  • Parar de fumar reduz o risco de progressão significativamente.

3. Terapias em Pesquisa

  • Inibidores do complemento (pegcetacoplan, avacincaptad pegol): oligômeros que bloqueiam a via do complemento para frear a atrofia geográfica emergente⁵.
  • Terapias genéticas: estudos iniciais visam modular genes envolvidos na homeostase retiniana.
  • Células-tronco: abordagens experimentais para renovar o epitélio pigmentar da retina.

4. Reabilitação Visual

  • Óculos com filtros especiais para melhorar contraste.
  • Lupas de baixa ampliação para leitura de textos pequenos.
  • Treinamento de visão com terapeutas ocupacionais para otimizar o uso da visão periférica.

PROGNÓSTICO

  • Pacientes que aderem ao protocolo AREDS2 e mantêm hábitos saudáveis apresentam redução de até 30 % no risco de progressão em 5 anos⁶.
  • A evolução costuma ser lenta: muitos preservam acuidade funcional por mais de uma década, especialmente sem evolução para a forma úmida.

PREVENÇÃO E CUIDADOS

  • Exames oftalmológicos anuais após os 55 anos.
  • Acompanhamento trimestral em caso de drusas grandes ou múltiplas.
  • Adoção precoce de suplementos em pacientes com drusas intermediárias.
  • Proteção solar ocular com óculos UV e chapéus de abas largas.

PERGUNTAS FREQUENTES

  1. Suplementos substituem a consulta? – Não; são coadjuvantes ao acompanhamento clínico.
  2. Quando devo começar a suplementação? – Quando houver drusas intermediárias ou avançadas.
  3. É seguro tomar vitaminas em longo prazo? – Em geral, sim; siga sempre a dosagem recomendada para evitar efeitos adversos.
  4. Dieta sozinha é suficiente? – Dieta equilibrada ajuda, mas o protocolo AREDS2 traz substâncias em doses terapêuticas.
  5. Terei que parar se evoluir para forma úmida? – Não; o protocolo nutricional continua útil, mas será associado a injeções de anti-VEGF.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Klein R, et al. Prevalence of drusen in age-related macular degeneration. Arch Ophthalmol. 2000;118(8):1119–1121.
  2. Thornton J, et al. Smoking and age-related macular degeneration: a review. Eye (Lond). 2005;19(9):935–944.
  3. Age-Related Eye Disease Study 2 Research Group. JAMA Ophthalmol. 2013;131(3):339–349.
  4. Chew EY, et al. Secondary analyses of AREDS2. Ophthalmology. 2015;122(2):489–499.
  5. Liao DS, et al. Complement inhibition with pegcetacoplan in geographic atrophy. Ophthalmology. 2020;127(10):1381–1393.
  6. Evans JR, et al. Antioxidant vitamin and mineral supplements for slowing the progression of age-related macular degeneration. Cochrane Database Syst Rev. 2017;7(7):CD000254.

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