A DMRI neovascular, também chamada “úmida”, é a forma mais agressiva da degeneração macular relacionada à idade. Nessa variante, vasos sanguíneos anormais crescem sob a mácula, vazando líquido e sangue que danificam as células retinianas. Sem intervenção, pode levar à perda rápida e significativa da visão central. Felizmente, tratamentos atuais permitem controlar o processo, muitas vezes preservando ou até recuperando parte da acuidade visual¹.
O QUE É O TRATAMENTO DA DMRI NEOVASCULAR?
O objetivo principal é bloquear o crescimento e a permeabilidade dos vasos anormais, reduzindo inchaço e hemorragias na região macular. Isso é alcançado por:
- Inibição de VEGF (fator de crescimento endotelial vascular), principal mediador da formação de neovasos.
- Terapias adicionais como laser ou fotodinâmica em casos selecionados.
Ilustração sugerida: corte esquemático da mácula mostrando vasos patológicos e área de exsudação.
CAUSAS E FATORES DE RISCO
- Idade avançada (≥65 anos).
- Histórico de DMRI seca em estágio intermediário ou avançado.
- Tabagismo e exposição solar intensa.
- Gene ARMS2/HTRA1 associado a maior risco de forma úmida².
- Hipertensão e aterosclerose – favorecem fragilidade vascular.
SINTOMAS
- Visão central embaçada ou ondulada (metamorfopsia)
- Mancha escura ou cinza no centro do campo visual
- Perda súbita de detalhes finos
- Dificuldade para ler e reconhecer rostos
- Sensação de imagem “distante” ou afastada
Alerta imediato: qualquer alteração visual aguda deve levar à consulta oftalmológica de urgência.
DIAGNÓSTICO
- Teste de Amsler: identifica distorções no campo central da visão.
- OCT (Tomografia de Coerência Óptica): detecta líquido dentro das camadas da retina.
- Angiofluoresceinografia: contraste revela neovasos e extravasamento de líquido.
- OCT-A (Angio-OCT): mapeia vasos sem necessidade de contraste.
Na consulta: exames indolores, duração total de 20–30 minutos; o médico explicará os achados e plano terapêutico.
TRATAMENTOS ATUAIS
1. Injeções Intravítreas de Anti-VEGF
- Principais fármacos: bevacizumabe (off-label), ranibizumabe, aflibercepte, faricimabe³.
- Mecanismo: bloqueiam VEGF, reduzem permeabilidade vascular e neovascularização.
- Esquema de aplicação:
- Tratamento inicial intensivo: 1 injeção mensal por 3–6 meses.
- Manutenção: conforme resposta – “pro re nata” (prn) ou “treat-and-extend” (aumenta intervalo gradual).
- Eficácia: até 90 % dos pacientes estabilizam ou melhoram visão após 2 anos⁴.
2. Terapia Fotodinâmica (TFD)
- Indicação: casos refratários de pacientes com vasculopatia polipoidal.
- Procedimento: verteporfina intravenosa + laser frio que ativa o corante – seletivamente oblitera a neovascularização.
- Recuperação: leve desconforto ocular temporário; acompanhamento mensal.
3. Fotocoagulação a Laser
- Uso restrito: lesões extrafoveais sem comprometimento central.
- Objetivo: fotocoagulação de vasos anômalos.
- Desvantagem: risco de criar cicatriz retiniana, destruição do tecido sobrejacente com aumento da intensidade da mancha.
4. Novas Perspectivas
Diversos estudos estão em andamento que têm por finalidade avaliar a utilização de novas medicações e dispositivos de liberação lenta de medicamentos.
PROGNÓSTICO
- Resposta ao anti-VEGF: maioria estabiliza visão; até 40 % melhoram ≥3 linhas de acuidade em 1 ano⁵.
- Fatores prognósticos favoráveis: início precoce, boa aderência, ausência de cicatrizes prévias.
- Risco de recorrência: tratamento contínuo pode ser necessário por anos.
PREVENÇÃO E CUIDADOS
- Monitoramento domiciliar com teste de Amsler.
- Consulta oftalmológica ao primeiro sinal de metamorfopsia.
- Controle de comorbidades sistêmicas: pressão arterial e colesterol.
- Proteção UV e cessação do tabagismo.
PERGUNTAS FREQUENTES
- As injeções doem?
– Pequeno desconforto; procedimento rápido sob anestesia local. - Quantas injeções vou precisar?
– Varia; no mínimo 3 mensais, depois intervalo conforme resposta. - Posso parar o tratamento se melhorar?
– Só com aval médico; interrupção abrupta pode causar recaída. - Existe risco de complicações graves?
– Raro; podem ocorrer infecção ou aumento de pressão intraocular. - O tratamento funciona em todos?
– A maioria responde bem, mas cerca de 10–15 % têm resposta subótima.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Brown DM, et al. Ranibizumab versus verteporfin for neovascular AMD. N Engl J Med. 2006;355(14):1432–1444.
- de Jong PTVM, et al. Genetics of AMD: the how and why. Prog Retin Eye Res. 2017;56:133–159.
- Rosenfeld PJ, et al. Anti-VEGF for neovascular AMD: 2-year results. Ophthalmology. 2011;118(2):120–131.
- Schmidt-Erfurth U, et al. Treat-and-extend dosing in neovascular AMD. Retina. 2015;35(10):1921–1932.
- Heier JS, et al. Efficacy of aflibercept in neovascular AMD. Ophthalmology. 2012;119(12):2537–2548.